Atividades - LP (1)

1o SIMULADO DE LÍNGUA PORTUGUESA  (gabarito no final)



TEXTO: O Gramático

Alto, magro, com os bigodes grisalhos a desabar, como ervas selvagens pela face de um abismo, sobre os cantos da funda boca munida de maus dentes, o professor Arduíno Gonçalves era um desses homens absorvidos completamente pela gramática. Almoçando gramática, jantando gramática, ceando gramática, o mundo não passava, aos seus olhos, de um enorme compêndio gramatical, absurdo que ele justificava repetindo a famosa frase do Evangelho de João:
– No princípio era o VERBO!
Encapado pela gramática, e às voltas, de manhã à noite, com os pronomes, com os adjetivos, com as raízes, com o complicado arsenal que transforma em um mistério a simplicíssima arte de escrever, o ilustre educador não consagrava uma hora sequer às coisas do seu lar. Moça e linda, a esposa pedia-lhe, às vezes, sacudindo-lhe a caspa do paletó esverdeado pelo tempo:
– Arduíno, põe essa gramatiquice de lado. Presta atenção aos teus filhos, à tua casa, à tua mulher! Isso não te põe para diante!
Curvado sobre a grande mesa carregada de livros, o cabelo sem trato a cair, como falripas de aniagem, sobre as orelhas e a cobrir o colarinho da camisa, o notável professor retirava dos ombros a mão cariciosa da mulher, e pedia-lhe, indicando a estante:
– Dá-me dali o Adolfo Coelho.
Ou:
– Apanha, aí, nessa prateleira, o Gonçalves Viana.
Desprezada por esse modo, Dona Ninita não suportou mais o seu destino: deixou o marido com suas gramáticas, com os seus dicionários, com os seus volumes ponteados de traça, e começou a gozar a vida passeando, dançando e, sobretudo, palestrando com o seu primo Gaudêncio de Miranda, rapaz que não conhecia o padre Antônio Vieira, o João de Barros, o frei Luís de Sousa, o Camões, o padre Manuel Bernardes, mas que sabia, como ninguém, fazer sorrir as mulheres.
– Ele não prefere, a mim, aquela porção de alfarrábios que o rodeiam? Então, que se fique com eles!
E passou a adorar o Gaudêncio, que a encantava com a sua palestra, com o seu bom-humor, com as suas gaiatices, nas quais não figuravam, jamais, nem Garcia de Rezende, nem Gomes Eanes de Azurara, nem Rui de Pina, nem Gil Vicente, nem, mesmo, apesar do seu mundanismo, D. Francisco Manuel de Melo.
Assim viviam, o professor, com seus puristas, e D. Ninita com o seu primo, quando, de regresso, um dia, ao lar, o desventurado gramático surpreendeu a mulher nos braços musculosos, mas sem estilo, de Gaudêncio de Miranda. Ao abrir-se a porta, os dois culpados empalideceram, horrorizados. E foi com o pavor no coração que o rapaz se atirou aos pés do esposo traído, pedindo, súplice, de joelhos:
– Me perdoe, professor!
Grave, austero, sereno, duas rugas profundas sulcando a testa ampla, o ilustre educador encarou o patife, trovejando, indignado:
– Corrija o pronome, miserável! Corrija o pronome!
E, entrando no gabinete, começou, cantarolando, a manusear os seus clássicos...
(Humberto de Campos)


1) No Evangelho de João, “Verbo” corresponde à pessoa de Jesus Cristo. Ao citar a frase do Evangelho, Arduíno Gonçalves emprega a palavra “VERBO”:

a) isolada do contexto evangélico e com significado puramente gramatical.
b) no próprio sentido do Evangelho, para justificar o absurdo que era fazer do mundo “um enorme compêndio gramatical”.
c) para ressaltar a importância do conhecimento do Evangelho nos estudos gramaticais.
d) no sentido de ter sido o verbo a primeira palavra utilizada na comunicação humana.
e) referindo-se a ela como a primeira e mais importante classe de palavras enumerada pela
gramática normativa.

2) Para o narrador, a arte de escrever:

a) é muito simples, desde que sejam abandonados os pronomes, os adjetivos, as raízes, enfim, as normas gramaticais.
b) pode transformar-se em um mistério, se não se conhecer o arsenal das normas gramaticais.
c) é muito simples, mas a preocupação excessiva com a gramática pode torná-la impenetrável.
d) exige preocupação constante com os mistérios que a envolvem, como os pronomes, os adjetivos e as raízes.
e) é simplicíssima, quando se consagra um pouco do tempo às coisas do lar.

3) Observe o trecho: “E passou a adorar o Gaudêncio, que a encantava com sua palestra, com seu bom-humor, com as suas gaiatices, nas quais não figuravam, jamais, nem Garcia de Rezende, nem Gomes Eanes de Azurara...”. As orações grifadas são, respectivamente,

a) subordinada adjetiva explicativa e subordinada adjetiva restritiva
b) subordinada adjetiva explicativa e subordinada adjetiva explicativa
c) subordinada substantiva objetiva direta e subordinada substantiva completiva nominal
d) subordinada substantiva subjetiva e subordinada adjetiva explicativa
e) coordenada sindética explicativa e subordinada substantiva objetiva indireta

4) “– Ele não prefere, a mim, aquela porção de alfarrábios que o rodeiam?”. Com relação a essa frase, mantendo a norma culta e o sentido que está no texto, seria correta a construção:

a) Ele não prefere, a mim, àquela porção de alfarrábios que o rodeiam?
b) Ele não prefere àquela porção de alfarrábios que o rodeiam a mim?
c) Ele não prefere mais a mim do que aquela porção de alfarrábios que o rodeiam?
d) Ele não prefere mais aquela porção de alfarrábios que o rodeiam do que a mim?
e) Ele não prefere aquela porção de alfarrábios que o rodeiam a mim?

5) "Então, que se fique com eles!". O termo em destaque tem a mesma função sintática do sublinhado em:

a) Fez-se a luz.
b) Vão-se os anéis, ficam os dedos.
c) Vendem-se casas.
d) Vive-se ao ar livre aqui.
e) Dona Ninita deixou-se levar pela paixão.

6) Observe o período: "Assim viviam, o professor, com seus puristas, e D. Ninita com o seu primo..." De acordo com o texto, infere-se que "puristas" são pessoas:

a) preconizadoras da linguagem puramente coloquial.
b) defensoras das transformações lingüísticas.
c) defensoras da pureza das tradições familiares.
d) preocupadas com a pureza do vernáculo.
e) engajadas em uma linguagem puramente brasileira.

7) Considerando os cinco primeiros parágrafos do texto, é correto afirmar que:

a) "...pela face de um abismo..."(linhas 1 e 2) e "...pela gramática."(linha 3) desempenham a mesma função sintática.
b) na frase "– No princípio era o VERBO!" (linha 7), o termo em destaque é verbo de ligação.
c) em "Isso não te põe para diante!" (linha 14), o termo em destaque refere-se a filhos, casa e mulher.
d) em "Curvado sobre a grande mesa carregada de livros..."(linha 15), a expressão em
destaque é oração reduzida de particípio.
e) "...como falripas de aniagem..."(linhas 15 e 16) é uma oração subordinada adverbial
comparativa.

8) “E foi com o pavor no coração que o rapaz se atirou aos pés do esposo...” (linha 36). Na frase, as locuções adverbiais expressam as idéias de:

a) causa e conseqüência
b) conseqüência e lugar
c) concessão e finalidade
d) modo e lugar
e) finalidade e modo

9) D. Ninita disse ao marido: Deixo__________com suas gramáticas, não pelo muito que eu__________, mas pela nenhuma conta________você________tem.
A alternativa que completa corretamente as lacunas da frase adaptada do texto é:

a) o – valha – em que – me
b) o – valhe – em cuja – lhe
c) lhe – valha – na qual – o
d) te – valhe – em que – me
e) o – valha – que – me

10) PREVENÇÃO CONTRA ASSALTOS

"Como os assaltos crescem dia-a-dia, não podendo contê-los, a PM, sabiamente, dá conselhos aos cidadãos para serem menos assaltados:

I - Não demonstre que carrega dinheiro.
II - Jamais deixe objetos à vista, dentro do carro.
III - Levante todos os vidros, mesmo em movimento.
IV - Não deixe documentos no veículo.
(...)"
(FERNANDES, Millôr. Prevenção contra assaltos. In: TERRA, Ernani & NICOLA, José. "Curso prático de língua, literatura e redação." São Paulo: Scipione, 1997. v. 1, p. 36 )

Nesse fragmento, a função da linguagem predominante é:
a) fática. d) referencial.
b) emotiva. e) metalingüística
c) conativa.

11) Observe as frases:
I - Quanto mais pessoas houverem a desenvolver essa idéia, mais chances terá a nação de prosperar.
II - Não há dúvidas que fatores clássicos, como o acesso à recursos naturais são importantes.
III - As outras religiões monoteístas, incluindo o judaísmo, faz da pobreza uma virtude.
IV - A política favorece aqueles que conseguem parecer bons, mesmo que não o sejam.
V - No que diz respeito à promoção de oportunidades para todos, o capitalismo está muito à frente de todas as outras formas de organização.
Estão de acordo com a norma culta:
a) Apenas I e III.
b) Apenas II e IV.
c) Apenas IV e V.
d) Apenas II e III.
e) Apenas II, III e V.

12) Indique o enunciado que corresponde à norma padrão.
a) Qual de nós pudemos saber, que havia metais preciosos naquela terra graciosa, aonde, se plantando tudo dá?
b) Muitos de nós se detiveram nos saborosos detalhes da nova terra, de cujo povo souberam apreciar a robustez e a docilidade.
c) Quem de nós, se não o capitão, pôde saber de que metais preciosos naquela terra graciosa existia, onde, se se plantar, tudo dar.
d) Muitos de nós deteriam-se em todos os detalhes sobre a nova terra e seus nativos, cujo corpo apreciamos a robustez, a simpatia e a docilidade.
e) O clima, o solo, as águas, os nativos, tudo, com saborosos detalhes, foi referido. São relatos, nos quais se tratam das aventuras da longa travessia.

13) "... a fazenda dormia num silêncio recluso, a casa estava de luto...". A figura de linguagem empregada pelo autor neste trecho é

a) a metonímia.                   d) a metáfora.
b) a antítese.                        e) a prosopopéia ou a personificação.
c) a hipérbole.

14) Para responder à questão, leia os versos:

"E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento."

"Mudaram as estações
Nada mudou"

É notória a oposição de idéias nos versos, o que significa que neles se encontra como principal figura de linguagem a
a) metáfora.                d) metonímia.
b) antítese.                  e) catacrese.
c) sinestesia.



GABARITO:

Questão /Alternativa
1 a
2 c
3 b
4 e
5 b
6 d
7 e
8 d
9 a
10 c
11 c
12 b
13 e
14 b

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