Existem lacunas na Proposta Curricular de Língua Portuguesa da SEE-SP?



O trabalho com agrupamento de gêneros possibilita aos alunos desenvolver capacidades específicas de atuação por meio da linguagem, por isso, reconhecemos a importância em se trabalhar com os agrupamentos de gêneros em sala de aula de Língua Portuguesa com a teorização proposta pelos pesquisadores Dolz e Schneuwly (2004[1996]) que dá base à Proposta Curricular do Estado de São Paulo, no EF II, porém com divergências.
Os agrupamentos de gêneros não acontecem apenas em função de características formais dos textos que agrupam ou dos aspectos tipológicos: são definidos por um conjunto de critérios, como por exemplo, em que domínio discursivo circulam, ou qual sua função social e as capacidades de linguagem a serem desenvolvidas. Esses critérios de agrupamento e de progressão curricular, sugeridos por Dolz e Schneuwly propõem um trabalho com diversidade de gêneros viabilizando a aquisição das diferentes capacidades de leitura e produção oral e escrita (em diferentes gêneros), as quais são progressivamente construídas. Por essas razões, os autores propõem que todos os agrupamentos devem ser trabalhados de maneira cada vez mais complexa, em todos os anos de escolaridade (progressão em espiral).
A Proposta Curricular do Estado de São Paulo (PCESP) para EF II, por outro lado, não garante a diversidade de aprendizagem e a progressão em relação aos gêneros, porque propõe que se trabalhe apenas com agrupamentos específicos em cada série/ano, o que concentra ações sobre certas capacidades leitoras/escritoras e não outras. Consideramos que esse procedimento adotado pela PCESP limita o entendimento das combinações de diferentes sequências textuais porque, sendo os textos heterogêneos do ponto de vista composicional e, na maioria das vezes, organizados em diferentes sequências textuais, a necessidade da diversificação de gêneros em sala de aula é crucial. Além disso, desenvolver atividades com um agrupamento específico em uma série/ano dificulta o contato do aluno com outras práticas sociais relacionadas a outros agrupamentos.
Tomando como exemplo o agrupamento do eixo Argumentar, percebemos que na proposta de Dolz e Schneuwly, algumas capacidades globais vão se construindo ao longo da escolaridade, existindo elementos para uma progressão curricular, gêneros suscetíveis de serem trabalhados em função dos ciclos. Isso não ocorre na PCESP, que propõe o trabalho com esse agrupamento somente na 8ª série/9º ano, quando artigos de opinião e debates são utilizados exaustivamente, excluindo outros gêneros. Portanto, não há uma progressão no ensino, uma vez que nas séries/anos anteriores foram trabalhados outros agrupamentos de gêneros (conforme proposta) e estes não são retomados nas séries seguintes.
Por todos esses motivos, entendemos que a proposta da SEE apresenta perdas quanto à progressão didática por não trabalhar com a diversidade de gêneros. Por isso, cabe ao professor complementá-la com outros gêneros a cada série/ano para que o aluno perceba e compreenda a heterogeneidade na composição dos textos, as diferentes sequências textuais presente neles e se aproprie de diversos domínios sociais de comunicação ao longo do curso.


ROGÉRIA PELEGRINELLI

Bibliografia

DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. Gêneros e progressão em expressão oral e escrita - Elementos para reflexões sobre uma experiência suíça (francófona). In: ROJO, R. H. R.; CORDEIRO, G. S. (Orgs./Trads.) Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004[1996], p. 41-70.

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