terça-feira, 18 de maio de 2010

Dificuldades ortográficas: Dicas!

PROBLEMAS GERAIS DA LÍNGUA CULTA



FORMA E GRAFIA DE ALGUMAS PALAVRAS E EXPRESSÕES



1) QUE E QUÊ

Que é pronome, conjunção, advérbio ou partícula expletiva. Por se tratar de monossílabo átono, não é acentuado:

(O)Que você pretende?

Você me pergunta (o) que farei. (O) Que posso fazer?

Que beleza! Que bela atitude!

Convém que o assunto seja discutido seriamente.

Quase que me esqueço de avisá-lo.

Quê representa um monossílabo tônico. Isso ocorre quando um pronome se encontra em final de frase, imediatamente antes de um ponto (final, de interrogação ou exclamação) ou de reticências, ou quando quê é um substantivo (com o sentido de "alguma coisa", "certa coisa") ou uma interjeição (indicando sur­presa, espanto):

Afinal, você veio aqui fazer o quê?

Você precisa de quê?

Há um quê inexplicável em sua atitude.

Quê! Conseguiu chegar a tempo?!




2) POR QUE, POR QUÊ, PORQUE, PORQUÊ

A forma por que é a seqüência de uma preposição (por) e um pronome interrogativo (que). E uma expressão equivalente a por qual razão, por qual motivo:

Por que você pensa assim?

Preciso saber por que você pensa assim.

Não sei por que você pensa isso.

Não deixe de ler a matéria intitulada "Por que os corruptos não vão para a cadeia". É impressionante!

Caso surja no final de uma frase, imediatamente antes de um ponto (final, de interrogação, de ex­clamação) ou de reticências, a seqüência deve ser grafada por quê, pois o monossílabo que passa a ser tônico:

Ainda não terminou? Por quê?

Você tem coragem de perguntar por quê?!

Há casos em que por que representa a seqüência preposição + pronome relativo equivalendo a pelo qual (ou alguma de suas flexões: pela qual, pelos quais, pelas quais). Em outros contextos por que equi­vale a para que:

Estas são as reivindicações por que estamos lutando.

O túnel por que deveríamos passar desabou ontem.

Lutamos por que um dia este país seja melhor.

Já a forma porque é uma conjunção, equivalendo a pois, já que, uma vez que, como:

A situação agravou-se porque muita gente se omitiu.

Sei que há algo errado porque ninguém apareceu até agora.

Continuas implicando comigo! É porque discordo de ti?

Porque também pode indicar finalidade, equivalendo a para que, a fim de. Trata-se de um uso pouco freqüente na língua atual:

Não julgues porque não te julguem.

A forma porquê representa um substantivo. Significa causa, razão, motivo e normalmente surge acompanhada de palavra determinante (um artigo, por exemplo). Como é um substantivo, pode ser plural içado sem qualquer problema:

Não é fácil encontrar o porquê de toda essa confusão.

Creio que os verdadeiros porquês não vieram à luz.



3) ONDE E AONDE

A tendência no português atual é considerar a seguinte distinção: aonde indica idéia de movimento ou aproximação, opondo-se a donde, que exprime afastamento. Costuma referir-se a verbos de movimento:
Aonde você vai?

Aonde querem chegar com essas atitudes?

Aonde devo dirigir-me para obter esclarecimentos?

Não sei aonde ir.

Onde indica o lugar em que se está ou em que se passa algum fato. Normalmente, refere-se a verbos que exprimem estado ou permanência:

Onde você está?

Onde você vai ficar nas próximas férias?

Não sei onde começar a procurar.


4) MAS E MAIS

Mas é uma conjunção adversativa, equivalendo a porém, contudo, entretanto:
Não conseguiu, mas tentou.
Mais é pronome ou advérbio de intensidade, opondo-se normalmente a menos:
Ele foi quem mais tentou; ainda assim, não conseguiu.

É um dos países mais miseráveis do planeta.


5) MAL E MAU

Mal pode ser advérbio ou substantivo. Como advérbio, significa “irregularmente”, “erradamente”, “de forma inconveniente ou desagradável”. Opõe-se a bem:
Era previsível que ele se comportaria mal. Era evidente que ele estava mal intencionado porque suas opiniões haviam repercutido mal na reunião anterior.
Como substantivo, mal pode significar "doença", "moléstia": em alguns casos, significa “aquilo que é prejudicial ou nocivo":
A febre amarela é um mal que atormenta as populações pobres.

O mal é que não se toma nenhuma atitude definitiva.

O substantivo mal também pode designar um conceito moral, ligado á idéia de maldade; nesse sentido a palavra também se opõe a bem:

Há uma frase de que a visão da realidade nos faz muitas vezes duvidar: “O mal não compensa”.

Mau é adjetivo. Significa "ruim", "de má índole", "de má qualidade". Opõe-se a bom e apresenta a forma feminina má:

Não é mau sujeito.

Trata-se de um mau administrador.

Tem um coração mau.



6) A PAR E AO PAR
A par tem o sentido de "bem-informado", "ciente":
Mantenha-me a par de tudo o que acontecer. É importante manter-se a par das decisões parlamentares.
Ao par é uma expressão usada para indicar relação de equivalência ou igualdade entre valores finan­ceiros (geralmente em operações cambiais): As moedas fortes mantêm o câmbio praticamente ao par.



7) AO ENCONTRO DE E DE ENCONTRO A

Ao encontro de indica "ser favorável a", "aproximar-se de":
Ainda bem que sua posição veio ao encontro da minha.

Quando a viu, foi ao seu encontro e abraçou-a.

De encontro a indica oposição, choque, colisão. Veja:
Suas opiniões sempre vieram de encontro às minhas: pertencemos a mundos diferentes.

O caminhão foi de encontro ao muro, derrubando-o.

8) A E HÁ na expressão de tempo
O verbo haver é usado em expressões que indicam tempo já transcorrido:
Tais fatos aconteceram há dez anos.
Nesse sentido, é equivalente ao verbo fazer:
Tudo aconteceu faz dez anos.
A preposição a surge em expressões em que a substituição pelo verbo fazer é impossível:
O lançamento do satélite ocorrerá daqui a duas semanas.
Partiriam dali a duas horas.

9) ACERCA DE E HÁ CERCA DE


Acerca de significa "sobre", "a respeito de":
Haverá uma palestra acerca das conseqüências das queimadas.
Há cerca de indica um período aproximado de tempo já transcorrido:
Os primeiros colonizadores surgiram há cerca de quinhentos anos.


10) AFIM E A FIM
Afim é um adjetivo que significa "igual", "semelhante". Relaciona-se com a idéia de afinidade:
Tiveram idéias afins durante o trabalho.

São espíritos afins.
A fim surge na locução a fim de, que significa "para" e indica idéia de finalidade:
Trouxe algumas flores a fim de nos agradar.


11) DEMAIS E DE MAIS
Demais pode ser advérbio de intensidade, com o sentido de "muito"; aparece intensificando verbos, adjetivos ou outros advérbios:
Aborreceram-nos demais: isso nos deixou indignados demais.

Estou até bem demais!
Demais também pode ser pronome indefinido, equivalendo a "outros", "restantes":
Não coma todo o pudim! Deixe um pouco para os demais.
De mais opõe-se a de menos. Refere-se sempre a um substantivo ou pronome:
Não vejo nada de mais em sua atitude!

O concurso foi suspenso porque surgiram candidatos de mais.


12) SENÃO E SE NÃO
Senão equivale a "caso contrario" ou "a não ser":
É bom que ele colabore, senão não haverá como ajudá-lo.

Não fazia coisa alguma senão criticar.
Se não surge em orações condicionais. Equivale a "caso não":
Se não houver aula, iremos ao cinema.

13) NA MEDIDA EM QUE E À MEDIDA QUE


Na medida em que exprime relação de causa e equivale a "porque", “já que”, “uma vez que”:
Na medida em que os projetos foram abandonados, a população carente ficou entregue à própria sorte.
À medida que indica proporção, desenvolvimento simultâneo e gradual. Equivale a “à proporção que”:
A ansiedade aumentava à medida que o prazo ia chegando ao fim.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

2o SIMULADO - Língua Portuguesa

2o SIMULADO DE LÍNGUA PORTUGUESA


1) Em “Passamos então nos dois, privilegiadas criaturas, a regalar-nos com a mesa...” , a função sintática do termo sublinhado é:
a) sujeito
b) objeto direto
c) aposto
d) adjunto adverbial
e) vocativo

2) “A recordação da cena persegue-me até hoje.” Os termos em destaque são, respectivamente:
a) Objeto indireto, objeto indireto.
b) Complemento nominal, objeto direto
c) Complemento nominal, objeto indireto
d) Objeto indireto, objeto direto
e) N . d . a .

3) TECNOLOGIA:

Hackers invadem a rede de computadores da Microsoft
27-out-2000.

Direção da maior empresa de softwares do mundo descobriram que invasores tiveram acesso aos códigos produzidos pela companhia e chamam o FBI para ajudar nas investigações.
(Veja online - "Notícias Diárias".)

No trecho reproduzido, incorre-se num erro gramatical, por conta
a) da concordância do verbo "descobriram"
b) do emprego de artigo em "aos códigos".
a) da apassivação do verbo "produzidos".
b) da regência do verbo "chamam".
c) do complemento do verbo "tiveram".

4) (UF- PR) Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas:
I - _____________ ali pessoas de vários países.
II - Eles ______________ dito a verdade.
III - __________ muitos casos de epidemia.
IV - _______________ lugares suficientes para todos.
V - Eles se _____________ muito bem nas provas.

a) haviam, haviam, houve, haverá, houvera
b) haviam, havia, houveram, haverá, houveram
c) haviam, havia, houve, haverá, houveram
d) havia, havia, houveram, haverá, houveram
e) havia, haviam, houve, haverá, houveram

5) Assinale a alternativa incorreta quanto à concordância verbal:
a) A maior parte dos fregueses reclamou da nova tabela de preços.
b) A maior parte da população estava insatisfeita com o governo.
c) A multidão reuniram-se na praça da Sé.
d) Grande número de crianças brasileiras vive nas ruas.
e) A maioria das senhoras exigiram explicações.

6) Assinale a alternativa incorreta quanto ao emprego dos verbos impessoais:
a) Segundo a previsão haverá ventos fortes e muita chuva no sul do país.
b) Fazem dez dias que ela ficou de me dar notícias sobre o concurso.
c) Havia índios desconhecidos na região.
d) Existem indícios de que já tinham visto homens brancos.
e) Mesmo fora dessa área haverá índios?

7) A frase "Erros foram detectados em todos os setores" está corretamente transposta para a voz passiva pronominal em:
a) Detectou-se erros em todos os setores.
b) Alguém detectou erros em todos os setores.
c) Detectaram-se erros em todos os setores.
d) Foi detectado erros em todos os setores.
e) Detectaram erros em todos os setores.

8) Transpondo a frase "Os danos deveriam ter sido reparados pelo responsável" para a voz ativa, obtém-se a forma verbal........

a) haviam de ser reparados
b) tinha reparado
c) deveria ter reparado
d) devia ter reparado
e) deve ter reparado


9) Nas sentenças seguintes, os conectores destacados estabelecem diferentes relações. Identifique essas relações:

I. Pretendo ingressar na Universidade, A FIM DE me qualificar para o trabalho.
II. Pretendo ingressar na Universidade, PORQUE quero ser biólogo.
III. Ingresso na Universidade, OU viajo para o exterior.
IV. Freqüentarei a Universidade, EMBORA more bem distante daqui.
V. Ingressarei nesta Universidade, SE passar no
vestibular.

Marque a alternativa que corresponde ao tipo de relação estabelecido, respectivamente, em cada frase:
a) temporalidade, finalidade, adição, condicionalidade, disjunção.
b) condicionalidade, finalidade, adição, disjunção, oposição.
c) finalidade, causalidade, disjunção, disjunção, oposição.
d) causalidade, oposição, finalidade, disjunção, condicionalidade.
e) finalidade, causalidade, disjunção, oposição, condicionalidade.

10) Identifique o valor semântico da conjunção "E" nos períodos a seguir.

I - O poeta nasceu ao final das duas primeiras décadas deste século "E" ainda continua perplexo dentro deste mundo atormentado.
II - As pessoas conviviam com personalidades de todos os matizes "E" aprendiam a lidar com gente boa e gente má.
III - Por amar Fortaleza, o poeta fez-lhe um canto de amor "E" o leu ao receber o título de "Cidadão de Fortaleza".

Assinale a opção cuja seqüência corresponde à relação existente entre as orações dos períodos I, II e III.
a) adição - conclusão - conseqüência;
b) oposição - oposição - adição;
c) adição - conclusão - finalidade;
d) oposição - conclusão - finalidade;
e) adição - conseqüência - explicação.

GABARITO:
1 – C
2 – B
3 – A
4 – E
5 – C
6 – B
7 – C
8 – C
9 – E
10 - D

1o SIMULADO - Língua Portuguesa

1o SIMULADO DE LÍNGUA PORTUGUESA



TEXTO: O Gramático

Alto, magro, com os bigodes grisalhos a desabar, como ervas selvagens pela face de um abismo, sobre os cantos da funda boca munida de maus dentes, o professor Arduíno Gonçalves era um desses homens absorvidos completamente pela gramática. Almoçando gramática, jantando gramática, ceando gramática, o mundo não passava, aos seus olhos, de um enorme compêndio gramatical, absurdo que ele justificava repetindo a famosa frase do Evangelho de João:
– No princípio era o VERBO!
Encapado pela gramática, e às voltas, de manhã à noite, com os pronomes, com os adjetivos, com as raízes, com o complicado arsenal que transforma em um mistério a simplicíssima arte de escrever, o ilustre educador não consagrava uma hora sequer às coisas do seu lar. Moça e linda, a esposa pedia-lhe, às vezes, sacudindo-lhe a caspa do paletó esverdeado pelo tempo:
– Arduíno, põe essa gramatiquice de lado. Presta atenção aos teus filhos, à tua casa, à tua mulher! Isso não te põe para diante!
Curvado sobre a grande mesa carregada de livros, o cabelo sem trato a cair, como falripas de aniagem, sobre as orelhas e a cobrir o colarinho da camisa, o notável professor retirava dos ombros a mão cariciosa da mulher, e pedia-lhe, indicando a estante:
– Dá-me dali o Adolfo Coelho.
Ou:
– Apanha, aí, nessa prateleira, o Gonçalves Viana.
Desprezada por esse modo, Dona Ninita não suportou mais o seu destino: deixou o marido com suas gramáticas, com os seus dicionários, com os seus volumes ponteados de traça, e começou a gozar a vida passeando, dançando e, sobretudo, palestrando com o seu primo Gaudêncio de Miranda, rapaz que não conhecia o padre Antônio Vieira, o João de Barros, o frei Luís de Sousa, o Camões, o padre Manuel Bernardes, mas que sabia, como ninguém, fazer sorrir as mulheres.
– Ele não prefere, a mim, aquela porção de alfarrábios que o rodeiam? Então, que se fique com eles!
E passou a adorar o Gaudêncio, que a encantava com a sua palestra, com o seu bom-humor, com as suas gaiatices, nas quais não figuravam, jamais, nem Garcia de Rezende, nem Gomes Eanes de Azurara, nem Rui de Pina, nem Gil Vicente, nem, mesmo, apesar do seu mundanismo, D. Francisco Manuel de Melo.
Assim viviam, o professor, com seus puristas, e D. Ninita com o seu primo, quando, de regresso, um dia, ao lar, o desventurado gramático surpreendeu a mulher nos braços musculosos, mas sem estilo, de Gaudêncio de Miranda. Ao abrir-se a porta, os dois culpados empalideceram, horrorizados. E foi com o pavor no coração que o rapaz se atirou aos pés do esposo traído, pedindo, súplice, de joelhos:
– Me perdoe, professor!
Grave, austero, sereno, duas rugas profundas sulcando a testa ampla, o ilustre educador encarou o patife, trovejando, indignado:
– Corrija o pronome, miserável! Corrija o pronome!
E, entrando no gabinete, começou, cantarolando, a manusear os seus clássicos...
(Humberto de Campos)


1) No Evangelho de João, “Verbo” corresponde à pessoa de Jesus Cristo. Ao citar a frase do Evangelho, Arduíno Gonçalves emprega a palavra “VERBO”:

a) isolada do contexto evangélico e com significado puramente gramatical.
b) no próprio sentido do Evangelho, para justificar o absurdo que era fazer do mundo “um enorme compêndio gramatical”.
c) para ressaltar a importância do conhecimento do Evangelho nos estudos gramaticais.
d) no sentido de ter sido o verbo a primeira palavra utilizada na comunicação humana.
e) referindo-se a ela como a primeira e mais importante classe de palavras enumerada pela
gramática normativa.

2) Para o narrador, a arte de escrever:

a) é muito simples, desde que sejam abandonados os pronomes, os adjetivos, as raízes, enfim, as normas gramaticais.
b) pode transformar-se em um mistério, se não se conhecer o arsenal das normas gramaticais.
c) é muito simples, mas a preocupação excessiva com a gramática pode torná-la impenetrável.
d) exige preocupação constante com os mistérios que a envolvem, como os pronomes, os adjetivos e as raízes.
e) é simplicíssima, quando se consagra um pouco do tempo às coisas do lar.

3) Observe o trecho: “E passou a adorar o Gaudêncio, que a encantava com sua palestra, com seu bom-humor, com as suas gaiatices, nas quais não figuravam, jamais, nem Garcia de Rezende, nem Gomes Eanes de Azurara...”. As orações grifadas são, respectivamente,

a) subordinada adjetiva explicativa e subordinada adjetiva restritiva
b) subordinada adjetiva explicativa e subordinada adjetiva explicativa
c) subordinada substantiva objetiva direta e subordinada substantiva completiva nominal
d) subordinada substantiva subjetiva e subordinada adjetiva explicativa
e) coordenada sindética explicativa e subordinada substantiva objetiva indireta

4) “– Ele não prefere, a mim, aquela porção de alfarrábios que o rodeiam?”. Com relação a essa frase, mantendo a norma culta e o sentido que está no texto, seria correta a construção:

a) Ele não prefere, a mim, àquela porção de alfarrábios que o rodeiam?
b) Ele não prefere àquela porção de alfarrábios que o rodeiam a mim?
c) Ele não prefere mais a mim do que aquela porção de alfarrábios que o rodeiam?
d) Ele não prefere mais aquela porção de alfarrábios que o rodeiam do que a mim?
e) Ele não prefere aquela porção de alfarrábios que o rodeiam a mim?

5) "Então, que se fique com eles!". O termo em destaque tem a mesma função sintática do sublinhado em:

a) Fez-se a luz.
b) Vão-se os anéis, ficam os dedos.
c) Vendem-se casas.
d) Vive-se ao ar livre aqui.
e) Dona Ninita deixou-se levar pela paixão.

6) Observe o período: "Assim viviam, o professor, com seus puristas, e D. Ninita com o seu primo..." De acordo com o texto, infere-se que "puristas" são pessoas:

a) preconizadoras da linguagem puramente coloquial.
b) defensoras das transformações lingüísticas.
c) defensoras da pureza das tradições familiares.
d) preocupadas com a pureza do vernáculo.
e) engajadas em uma linguagem puramente brasileira.

7) Considerando os cinco primeiros parágrafos do texto, é correto afirmar que:

a) "...pela face de um abismo..."(linhas 1 e 2) e "...pela gramática."(linha 3) desempenham a mesma função sintática.
b) na frase "– No princípio era o VERBO!" (linha 7), o termo em destaque é verbo de ligação.
c) em "Isso não te põe para diante!" (linha 14), o termo em destaque refere-se a filhos, casa e mulher.
d) em "Curvado sobre a grande mesa carregada de livros..."(linha 15), a expressão em
destaque é oração reduzida de particípio.
e) "...como falripas de aniagem..."(linhas 15 e 16) é uma oração subordinada adverbial
comparativa.

8) “E foi com o pavor no coração que o rapaz se atirou aos pés do esposo...” (linha 36). Na frase, as locuções adverbiais expressam as idéias de:

a) causa e conseqüência
b) conseqüência e lugar
c) concessão e finalidade
d) modo e lugar
e) finalidade e modo

9) D. Ninita disse ao marido: Deixo__________com suas gramáticas, não pelo muito que eu__________, mas pela nenhuma conta________você________tem.
A alternativa que completa corretamente as lacunas da frase adaptada do texto é:

a) o – valha – em que – me
b) o – valhe – em cuja – lhe
c) lhe – valha – na qual – o
d) te – valhe – em que – me
e) o – valha – que – me

10) PREVENÇÃO CONTRA ASSALTOS

"Como os assaltos crescem dia-a-dia, não podendo contê-los, a PM, sabiamente, dá conselhos aos cidadãos para serem menos assaltados:

I - Não demonstre que carrega dinheiro.
II - Jamais deixe objetos à vista, dentro do carro.
III - Levante todos os vidros, mesmo em movimento.
IV - Não deixe documentos no veículo.
(...)"
(FERNANDES, Millôr. Prevenção contra assaltos. In: TERRA, Ernani & NICOLA, José. "Curso prático de língua, literatura e redação." São Paulo: Scipione, 1997. v. 1, p. 36 )

Nesse fragmento, a função da linguagem predominante é:
a) fática. d) referencial.
b) emotiva. e) metalingüística
c) conativa.

11) Observe as frases:
I - Quanto mais pessoas houverem a desenvolver essa idéia, mais chances terá a nação de prosperar.
II - Não há dúvidas que fatores clássicos, como o acesso à recursos naturais são importantes.
III - As outras religiões monoteístas, incluindo o judaísmo, faz da pobreza uma virtude.
IV - A política favorece aqueles que conseguem parecer bons, mesmo que não o sejam.
V - No que diz respeito à promoção de oportunidades para todos, o capitalismo está muito à frente de todas as outras formas de organização.
Estão de acordo com a norma culta:
a) Apenas I e III.
b) Apenas II e IV.
c) Apenas IV e V.
d) Apenas II e III.
e) Apenas II, III e V.

12) Indique o enunciado que corresponde à norma padrão.
a) Qual de nós pudemos saber, que havia metais preciosos naquela terra graciosa, aonde, se plantando tudo dá?
b) Muitos de nós se detiveram nos saborosos detalhes da nova terra, de cujo povo souberam apreciar a robustez e a docilidade.
c) Quem de nós, se não o capitão, pôde saber de que metais preciosos naquela terra graciosa existia, onde, se se plantar, tudo dar.
d) Muitos de nós deteriam-se em todos os detalhes sobre a nova terra e seus nativos, cujo corpo apreciamos a robustez, a simpatia e a docilidade.
e) O clima, o solo, as águas, os nativos, tudo, com saborosos detalhes, foi referido. São relatos, nos quais se tratam das aventuras da longa travessia.

13) "... a fazenda dormia num silêncio recluso, a casa estava de luto...". A figura de linguagem empregada pelo autor neste trecho é

a) a metonímia. d) a metáfora.
b) a antítese. e) a prosopopéia ou a personificação.
c) a hipérbole.

14) Para responder à questão, leia os versos:

"E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento."

"Mudaram as estações
Nada mudou"

É notória a oposição de idéias nos versos, o que significa que neles se encontra como principal figura de linguagem a
a) metáfora. d) metonímia.
b) antítese. e) catacrese.
c) sinestesia.



GABARITO:

Questão /Alternativa
1 a
2 c
3 b
4 e
5 b
6 d
7 e
8 d
9 a
10 c
11 c
12 b
13 e
14 b

EXERCÍCIOS GRAMÁTICA

GRAMÁTICA – DIVERSOS



Per.Comp.Coordenação



1) Nas sentenças seguintes, os conectores destacados estabelecem diferentes relações. Identifique essas relações:



I. Pretendo ingressar na Universidade, A FIM DE me qualificar para o trabalho.

II. Pretendo ingressar na Universidade, PORQUE quero ser biólogo.

III. Ingresso na Universidade, OU viajo para o exterior.

IV. Freqüentarei a Universidade, EMBORA more bem distante daqui.

V. Ingressarei nesta Universidade, SE passar no

vestibular.



Marque a alternativa que corresponde ao tipo de relação estabelecido, respectivamente, em cada frase:

a) temporalidade, finalidade, adição, condicionalidade, disjunção.

b) condicionalidade, finalidade, adição, disjunção, oposição.

c) finalidade, causalidade, disjunção, disjunção, oposição.

d) causalidade, oposição, finalidade, disjunção,condicionalidade.

e) finalidade, causalidade, disjunção, oposição,condicionalidade. X



2) Observe os períodos adiante, diferentes quanto à pontuação.



- Adoeci logo; não me tratei.

- Adoeci; logo não me tratei.



A observação atenta desses períodos permite dizer que:

a) No primeiro, LOGO é um advérbio de tempo; no segundo, uma conjunção causal.

b) No primeiro, LOGO é uma palavra invariável; no segundo, uma palavra variável.

c) No primeiro, as orações estão coordenadas sem a presença de conjunção; na segunda, com a presença de uma conjunção conclusiva. XX

d) No primeiro, as orações estão coordenadas com a presença de conjunção; na segunda, sem conjunção alguma.

e) No primeiro, a segunda oração indica alternância; no segundo, a segunda oração indica a conseqüência.



3) Em uma de suas ocorrências, no poema "Pneumotórax", a conjunção "e" poderia ser substituída por "mas", sem prejuízo semântico. Essa possibilidade verifica-se em

a) dispnéia, e suores noturnos.

b) trinta e três... trinta e três.

c) Diga trinta e três.

d) pulmão esquerdo e o pulmão direito...

e) ter sido e que não foi. X



4) "Muitos resultados são imprevisíveis, MAS os dados já obtidos, diz a pesquisadora, 'sem dúvida permitirão um desenvolvimento extraordinário, TANTO na medicina e na biotecnologia QUANTO na bioinformática'."



Os conectivos em maiúsculo podem ser substituídos, sem alteração do significado, respectivamente, por:

a) porém - não só - mas também X

b) entretanto - ora - ora

c) portanto - não só - mas também

d) porque - seja - seja

e) contudo - ora – ora



5) Identifique o valor semântico da conjunção "E" nos períodos a seguir.



I - O poeta nasceu ao final das duas primeiras décadas deste século "E" ainda continua perplexo dentro deste mundo atormentado.

II - As pessoas conviviam com personalidades de todos os matizes "E" aprendiam a lidar com gente boa e gente má.

III - Por amar Fortaleza, o poeta fez-lhe um canto de amor "E" o leu ao receber o título de "Cidadão de Fortaleza".



Assinale a opção cuja seqüência corresponde à relação existente entre as orações dos períodos I, II e III.

a) adição - conclusão - conseqüência;

b) oposição - oposição - adição;

c) adição - conclusão - finalidade;

d) oposição - conclusão - finalidade; X

e) adição - conseqüência - explicação.



6) "A Internet é o portal da nova era, mas apenas 3% da população brasileira têm hoje acesso à rede."

("O Globo", 09/07/2000)



Analisando o emprego do conectivo MAS na construção acima, é possível concluir que, além de ligar duas partes da frase, ele desempenha a seguinte função:

a) reafirmar o significado da primeira parte

b) permitir a compreensão interna das duas frases

c) desfazer a ambigüidade de sentido da primeira parte

d) evidenciar uma relação de sentido entre as duas partes. X





Colocação Pronominal



7) Observe as frases:



1. Não _____ pode _____ calcular o prejuízo causado pelas chuvas. (se)



2. Faça o favor de _____ enviar _____ a carta, sem demora (lhe)



3. De fato, ninguém _____ havia lembrado _____ disso. (o)



4. Ela afirmou que o colega _____ estava molestando _____ (a)



Considerando-se a norma culta da língua, em qualquer dos espaços que se posicionem os elementos colocados entre parênteses, ficam corretas somente:

a) as frases 1 e 3

b) as frases 2 e 4 X

c) as frases 2 e 3

d) as frases 1 e 2

e) as frases 3 e 4



8) Observe as frases:



1. O mar ficava _____ apenas alguns quilômetros de lá. (a)



2. Chegou de viagem _____ cerca de duas semanas. (há)



3. Parou _____ uns 10 metros longe de mim. (a)



4. Não nos vemos _____ alguns anos. (há)



5. Você sabe daqui _____ quanto tempo o ônibus vai partir? (a)



Com os elementos colocados entre parênteses, ficam corretamente preenchidos os espaços:

a) somente das frases 1, 2 e 4

b) somente das frases 3 e 5

c) somente das frases 2 e 4

d) somente das frases 1, 3 e 5

e) de todas as frases X



9) Assinale a alternativa em que o pronome colocado entre parênteses NÃO preenche corretamente as lacunas.



a) O mal-entendido _____ aborreceu demais. (os)



b) Não fiquem preocupados: nós _____ ajudaremos. (lhes) X



c) Na verdade, em muito pouco ____ judaríamos. (as)



d) Admiro_____ a dedicação para com o irmão. (lhe)



e) Posso dizer que ainda não __ conheço bem. (a)



10) Escolha a alternativa que completa corretamente o período:



"Marta acaba de receber ____ visita do professor de artes cênicas, que ____ convidou para assistirem ____ peça teatral, em exibição ____ uma semana, ____ poucos metros de sua casa".



a) a, à, à, a, há;

b) a, a, à, há, a; x

c) a, a, à, à, a;

d) à, a, a, há, à;

e) a, a, à, a, a.



11) Assinale a alternativa em que o emprego da crase NÃO está correto.

a) É justa a alusão feita às determinações do diretor.

b) Ele age às escondidas, quando outros agem às claras.

c) Refiro-me à várias questões propostas pelo professor. X

d) Devido à chuva, não pudemos sair.

e) Os folhetos caíram às centenas das janelas do prédio.





12) A primeira pessoa do singular do presente do indicativo dos verbos indignar-se, afrouxar, caber e extinguir é, respectivamente:

a) Indiguino-me, afroxo, caibo, extínguo.

b) Indigno-me, afrouxo, caibo, extingo. X

c) Indigno-me, afróxo, cabo, extínguo.

d) Indiguino-me, afrouxo, cabo, extínguo.

e) Indigno-me, afrouxo, caibo, extínguo.







13) Os católicos normalmente rezam o Pai-Nosso no tratamento VÓS:



Pai nosso, que ESTAIS no céu, santificado seja o VOSSO nome, venha a nós o VOSSO reino, seja feita a VOSSA vontade, assim na terra como no céu.

O pão nosso de cada dia nos DAI hoje, PERDOAI as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, não nos DEIXEIS cair em tentação, mas LIVRAI-nos do mal.



Os protestantes normalmente rezam-no, utilizando o tratamento TU:



Pai nosso, que ESTÁS no céu, santificado seja o TEU nome, venha a nós o TEU reino, seja feita a TUA vontade, assim na terra como no céu.

O pão nosso de cada dia nos DÁ hoje, PERDOA as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, não nos DEIXES cair em tentação, mas LIVRA-nos do mal.



Preencha as lacunas, empregando o tratamento VOCÊ:



Pai nosso, que __________ no céu, santificado seja o SEU nome, venha a nós o SEU reino, seja feita a SUA vontade, assim na terra como no céu.

O pão nosso de cada dia nos _________ hoje, ___________ as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, não nos ___________ cair em tentação, mas _________-nos do mal.



RESPOSTA:



Pai nosso, que ESTÁ no céu, santificado seja o SEU nome, venha a nós o SEU reino, seja feita a SUA vontade, assim na terra como no céu.

O pão nosso de cada dia nos DÁ hoje, PERDOA as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, não nos DEIXE cair em tentação, mas LIVRE-nos do mal.



14) Assinale, a alternativa que preenche corretamente as lacunas da frase apresentada.



Acostumado ...... dirigir-se ...... alunas e funcionárias em tom deselegante, viu-se sem auxílio ...... vésperas da entrega do relatório.



a) à - à - as

b) a - a - as

c) à - à - as

d) a - à - às x

e) a - a - às





15) Quanto ao tempo verbal, é CORRETO afirmar que, no texto abaixo,



João e Maria

Agora eu era herói

E o meu cavalo só falava inglês

A noiva do cawboy

Era você além das outras três

Eu enfrentava os batalhões

Os alemães e os seus canhões

Guardava o meu bodoque

Ensaiava o rock

Para as matinês (...)

(CHICO BUARQUE DE HOLANDA)



a) a relação cronológica, no primeiro verso, entre o momento da fala e "ser herói" é de anterioridade.

b) o pretérito imperfeito indica um processo concluído num período definido no passado.

c) o pretérito imperfeito é usado para instaurar um mundo imaginário, próprio do universo infantil. X

d) o conflito entre a marca do presente - no advérbio "agora" - e a do passado - nos verbos - leva à intemporalidade.

e) o pretérito imperfeito é usado para exprimir cortesia.



16) Dos verbos destacados, só está corretamente empregado o que aparece na frase:

a) A atual administração quer CRESCER a arrecadação do IPTU em 40%.

b) A economia latino-americana se modernizou sem que a estrutura de renda da região ACOMPANHOU as transformações.

c) Se FAZER previsões sobre a situação econômica já era difícil antes das eleições, agora ficou ainda mais complicado. X

d) A indústria ficará satisfeita só quando vender metade do estoque e TRANSPOR o obstáculo dos juros.

e) Por mais que os leitores se APROPRIAM de um livro, no final, livro e leitor tornam-se uma só coisa.



17) Assinale a alternativa em que todos os verbos estejam empregados de acordo com a norma culta.

a) Você quer, depois de tudo o que me fez, que eu vou ao jantar com sua amiga?

b) Não faz isso, que os meninos estão para chegar e eu ainda não preparei o almoço.

c) Tende dó, meus filhos! Todos nós, pecadores, estamos sujeitos a essas tentações. Tende dó! X

d) Quem haveria de dizer que ele pode vim fazer esse conserto sem nenhuma dificuldade?

e) Sai, que esse dinheiro é meu. Não me venha dizer que o viu primeiro.



18) Assinale a opção que contém frase imperativa.

a) Persegue o gado a ousada Luzia.

b) Atalha a rapariga o gado de uma só vez.

c) Não tem vergonha de seu ofício Luzia.

d) Não deixe o gado ganhar a caatinga, Luzia. X

e) Posso deixar o gado passar, pai.



19) Numere os parênteses das frases a seguir, de acordo com os números que indicam os aspectos verbais, discriminados a seguir



I. Ação não-realizada

II. Início da ação

III. Repetição da ação

IV. Desenvolvimento da ação

V. Término da ação.



( ) lsaura ESTAVA TOCANDO, enquanto Álvaro a elogiava.

( ) O pai de Luzia TORNOU A ELOGIÁ-LA para todos que a viam.

( ) Helena FICOU DE CANTAR para o conselheiro, mas não teve oportunidade.

( ) No sertão, Dôra PASSOU A SE PREOCUPAR com luto.



A numeração correta é:

a) II - IV - V - III.

b) IV - II - III - V.

c) III - IV - I - II.

d) IV - III - I - II. X

e) II - III - V - IV.



20) Assinale a alternativa ERRADA quanto ao uso da forma verbal.

a) Se ela fizer o trabalho, ficarei livre.

b) Caso você quiser, iremos vê-lo. X

c) Quando elas chegarem, avisem-nas.

d) Embora se esforçassem, nada conseguiam.

e) Quanto mais estudava, mais ia aprendendo.



21) Observe o período a seguir.



"Os valores e conceitos ESTÃO tão distorcidos que a fina camada de verniz do comportamento humano se ROMPE com facilidade, revelando que não SOMOS mais do que bípedes primitivos da informática."



A passagem dos verbos destacados para o imperfeito do indicativo torna correta a alternativa

a) estavam - rompia - éramos. X

b) estarão - romperá - seremos.

c) estavam - rompeu - éramos.

d) estiveram - rompeu - fomos.

e) estariam - romperiam - seríamos.





22) A sala ficou vazia. Todos os homens se dirigiram para o curral. As mulheres foram depois. Os vaqueiros decidiram, como já era um pouco tarde, que os animais fossem montados de dois em dois.



Transcreva do texto:

1. uma oração sem sujeito.

2. uma oração na voz passiva.



Resp.:

1. "já era um pouco tarde..." oração sem sujeito

2. "...os animais fossem montados de dois em dois" (voz passiva)



23) Transpondo-se para a voz ativa a frase "Certas questões deveriam estar salvaguardadas pelo poder público", obtém-se a forma verbal

a) deveriam ser salvaguardadas.

b) deveria salvaguardar. X

c) haveria de salvaguardar.

d) estariam salvaguardadas.

e) poderia ter salvaguardado.



24) Transpondo a frase "Os danos deveriam ter sido reparados pelo responsável" para a voz ativa, obtém-se a forma verbal........



a) haviam de ser reparados

b) tinha reparado

c) deveria ter reparado X

d) devia ter reparado

e) deve ter reparado





25) A frase "Erros foram detectados em todos os setores" está corretamente transposta para a voz passiva pronominal em:

a) Detectou-se erros em todos os setores.

b) Alguém detectou erros em todos os setores.

c) Detectaram-se erros em todos os setores. X

d) Foi detectado erros em todos os setores.

e) Detectaram erros em todos os setores.





26) Em "Serão encontrados os verdadeiros culpados." temos uma oração na voz passiva analítica. Transformando-a em passiva sintética teremos: ______________________________

Resp.: Encontrar-se-ão os verdadeiros culpados.



27) Em "Seriam enviadas tropas de reforço" temos uma oração na voz passiva analítica. Transformando-a numa passiva sintética, teremos: _______________________________



Resp.: Enviar-se-iam tropas de reforço.





28) Em "O mestre já havia dado as notas" temos uma oração na voz ativa. Transformando-a numa passiva analítica, teremos: "_______________________________"



Resp.: As notas já haviam sido dadas pelo mestre.



29) Assinale a frase em que à ou às está mal empregado:

a) Amores à vista.

b) Referi-me às sem-razões do amor.

c) Desobedeci às limitações sentimentais.

d) Estava meu coração à mercê das paixões.

e) Submeteram o amor à provações difíceis. x





30) I - Refiro-me àquilo e não a isto.

II - Sairemos bem cedo, para chegar à tempo de assistir a cerimônia.

III - Dirigiram-se à Sua Excelência e declararam que estão dispostos à cumprir o seu dever e a não permitir a violação da lei.



Quanto ao emprego da crase, assinale:

a) se todas as afirmações estão incorretas.

b) se todas estão corretas.

c) se apenas I está correta. x

d) se apenas III está correta.

e) se apenas II está correta.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sabedoria e cálculo do silêncio.

Vários ditados populares dão importância ao silêncio: “Deus nos deu uma boca e dois ouvidos para que possamos menos falar e mais ouvir”; “Manter a boca fechada e os olhos bem abertos”, diz uma versão italiana; “Em boca fechada não entra mosca”, dizem os espanhóis e portugueses. Os comerciantes europeus inventaram a metáfora “o silêncio é de ouro e palavra é de prata”. O provérbio árabe “cada palavra que tu falas é uma espada que te ameaças” induz a prudência e o cálculo sobre o que, como e em que ocasião falar.
Existe uma relação íntima entre o silêncio e a prudência. O padre jesuíta Baltazar Gracian (séc.17) achava que “no silêncio cauteloso é que a prudência se refugia”. Ou seja, escolher ficar em silêncio não é valorizar a mudez, mas sim, saber calar de acordo com o lugar ou a ocasião: “Fale pouco, mas nunca pareça mudo e embaraçado...”, dizia uma antiga etiqueta social. Até o filósofo da linguagem, Wittgenstein (séc. 20), alertava que “Aquilo que não se pode falar, deve-se calar”. Enfim, o silêncio pode ser reconhecido como uma virtude que evita polêmicas desnecessárias e brigas perigosas. “Diante de tanta ignorância respondo com meu silêncio”, encurtava Rui Barbosa.
Entretanto, diante da intolerância, do racismo e dos fundamentalismos, devemos ficar em silêncio? Nessas situações, o bom senso entende que “o dever do intelectual é romper o silêncio, ainda que sua voz seja abafada pelos poderosos e seus cúmplices de plantão”[1]. “O grande cúmplice da tirania é o silêncio; não atacar o despotismo é a maneira mais covarde de servi-lo; não denunciá-lo é auxiliá-lo; estar próximo dele sem feri-lo é a maneira mais vil de protegê-lo; e proteger o crime é mil vezes pior que cometê-lo; eis aí a hora em que a palavra é um dever e o silêncio é um crime”[2].
Nada justifica, portanto, que muitos intelectuais – principalmente aqueles que acreditam que a “esquerda deve ser, sempre, moral ou ética” fiquem calados diante do terrorismo (condenado, inclusive, por Che Guevara), do genocídio nos regimes totalitários autodenominados socialistas ou nacional-socialistas (nazi-fascistas), da corrupção, da delação em nome da “causa justa”. É triste reconhecer como o infantilismo ainda domina uma parte da esquerda que cultua personalidades e faz “turismo revolucionário”[3], se alienando de ver o “todo”. Há que sustentar, sempre, uma atitude crítica das contradições dos regimes ou dos homens “demasiadamente humanos”. Tomás de Aquino dizia temer o homem que só conhece um livro [Timeo hominem unius libri]. Os homens sensatos deveriam desconfiar de todos os discursos, sobretudo os que produzem entorpecimento da razão crítica dos ouvintes condenados a somente ouvir em silêncio, repetindo o que o “grande mestre” diz.Os alunos deveriam questionar os professores que falam tanto como que obrigando os alunos a um silêncio de fé. Provavelmente, nesse caso, não temos ensino, mas sim, doutrinação.
Hoje, convivemos com uma civilização complexa, dominada pelo fetiche tecnológico sem um código moral de como usar tais bugigangas. O celular, por exemplo, é útil, mas também pode ser um instrumento de incivilidade quando toca fora de hora e no lugar inadequado. Pior é quando o dono se acha no direito de atender, ali mesmo, sem cerimônia e sem vergonha, falando alto para quem quiser ouvir. E o que dizer daqueles que falam com o famigerado aparelho dirigindo seu carro? E os que rompem o silêncio imposto por uma prisão que serviria para fazerem seu exame de consciência e se sentem autorizados a usarem o aparelhinho para desencadear violência numa cidade como São Paulo?

[1] OZAI, Antonio. “Assim falou Vargas Vila”. Disponível em Revista Espaço Acadêmico, nº. 61, junho de 2006. Acesso em: jun. 2006. Acesso em: jun. 2006.

[2] BAZZO, Ezio Flavio. Assim falou Vargas Vila. Brasília: Companhia das Tetas Publicadora, 2005. (XLVIII).

[3] O psicanalista Contardo Calligaris toma emprestado uma idéia de outro psicanalista, Fábio Hermann, que observou que o “turista é quem tira seu retrato colocando-se na frente do lugar visitado, mas olhando para a câmera: somos turistas quando viajamos de costas para o real [...]. Aos turistas revolucionários de Caracas, sugiro uma leitura. Rossana Rossanda acaba de publicar (na Itália) suas memórias, "La Ragazza del Secolo Scorso" (a moça do século passado; Einaudi)”. (CALLIGARIS, C. Os revolucionários silenciosos. Folha de S. Paulo, Cad. Ilustrada, 22 de junho de 2006.

por: RAYMUNDO DE LIMA

Convenção do silêncio.

Burke observa que existe um “acordo público” que nos induz ficarmos em silêncio em certas ocasiões. Num velório, solenidade, audiência pública, culto religioso, concerto musical, durante a execução do Hino Nacional, o silêncio é sinal de respeito e sintonia espiritual. Devemos evitar falar, ainda que baixinho, para não causar constrangimentos em ambientes sociais necessariamente silenciosos. O silêncio é natural porque faz parte da função biológica, quando estamos num banheiro, tentando dormir; ou psicológica, quando nos entregamos à introspecção; ou social, quando esperamos nossa vez, numa fila, cortejo fúnebre.

O “silêncio é um dos elementos essenciais em todas as religiões”, observa G. Mensching. Há variedades de silêncio sagrado: pessoal, comunal, o ‘silêncio eleito’ dos monges e freiras de clausura, a oração silenciosa ou ‘mental’. “O silêncio religioso é um misto de respeito por uma divindade; uma técnica para abrir o ouvido interior; e um sentido de inadequação de palavras para descrever as realidades espirituais”, escreve P. Burke.

É preciso “saber ficar em silêncio”, sentenciava La Rochefoucault. Os mal educados ignoram o sentido ético, estético, cultural, moral, jurídico e psicológico do silêncio. Assim como o sábio e o monge escolhem ficar mais tempo em silêncio – meditando, orando – podemos inferir que os verdadeiramente civilizados e comprometidos com a sabedoria são propensos a conversas intercaladas com o silêncio da prudência ao dizer e esperar o outro revelar seu ponto de vista. O silêncio atua como parte fundamental de uma conversação, que deve obedecer às regras de diversas situações, revelando assim o grau de civilidade das pessoas que participam dos diferentes encontros sociais.

Existe o “silêncio localista” das igrejas, bibliotecas, museus e hospitais. Recebe um olhar de reprovação e um discreto psiu quem desrespeitar o silêncio necessário para rezar, estudar, apreciar, ouvir uma palestra, ou visitar um enfermo.
Portanto, precisa ser reeducado aquele que desrespeita os locais de silêncio. A pessoa que fala pelos cotovelos palavras vazias, que sofre de incontinência verbal monopolizando a palavra, poderia receber benefícios incalculáveis psicanálise. É preciso compreender que excesso de palavras cansa, irrita, chateia, e termina boicotando a harmonização do ambiente social e comprometendo a própria imagem do falante compulsivo.

Silêncio para ensinar.

Os professores do ensino fundamental e médio, atualmente, reclamam que na sala de aula passam mais tempo pedindo silêncio aos alunos do que ensinando. Apesar dos sinais de barbárie na escola contemporânea, pouco se tem feito para impedir o seu avanço. Que fazer se os especialistas em educação se limitam a rotina de produção teórica abstracionista, e os responsáveis pelo sistema educacional continuam fugindo do compromisso de fazer “dialética do concreto” com o cotidiano das relações humanas na escola e na universidade? Onde está o equilíbrio entre conhecimento e sabedoria na formação dos professores para o futuro? Quem educará os pais para melhor educar os filhos?
Um dos efeitos da “geração net” é não respeitar os espaços cujo silêncio é quase obrigatório. Além de não suportar o silêncio necessário para introspecção, a “geração net” não tem paciência de seguir o fio condutor de uma conversa. Quanto mais jovem, mais rapidamente passa de um tema para outro ou troca de interlocutor como quem aperta o botão do controle remoto da TV. Mais do que impaciência, tais atitudes podem também revelar intolerância e desrespeito para com o próximo e falta de sintonia com o ambiente.
Como imaginam que “mandam no pedaço”, crianças e adolescentes se acham no direito de interromper a conversa dos adultos por motivo fútil. Os adultos, por sua vez, fingem que aceitam a atitude grosseira, ou se acovardam, deixando de exercer a autoridade de educadores, cujo resultado previsível é a incivilidade.
Muitas pessoas estão deixando de freqüentar os cinemas para evitar constrangimentos com platéias mal educadas, barulhentas, parecendo estar mais interessadas em comer pipoca e dar arrotos de refrigerantes do que assistir ao filme em silêncio. (Existe diferença entre a demonstração de incivilidade do MLST no Congresso Nacional, as depredações das escolas públicas, ou outras menos barulhentas promovidas pelas gangs no dia-a-dia urbano?).
Mede-se o nível de ensino de uma universidade pelo grau de silêncio de sua biblioteca. Alunos de alguns cursos de nível superior são mais propensos ao zunzunzun da “conversa paralela” que, sem querer-querendo, termina atrapalhando o silêncio imprescindível para ouvir uma exposição oral. Se o assunto é complexo e/ou o professor tem o estilo monótono, aumenta a probabilidade de dispersão e cochichos inconvenientes. O historiador Peter Burke observa que essa inclinação para romper a romper com o silêncio necessário de uma aula, nos países latinos, talvez viria de costume cultural de “tentar ouvir muitas pessoas falando ao mesmo tempo”. Ao contrário do costume anglo-saxônico que exige total silêncio da audiência, o palestrante para público latino-americano deve estar preparado para discorrer seu assunto tendo como ruído de fundo o zumbido de vozes. Curiosamente, ele seria considerado mal educado ou impolido se pedir silêncio, deixando transparecer certa irritação para com os verdadeiros mal educados.

A sabedoria do silêncio

A sabedoria do silêncio
Revista Espaço Acadêmico, nº. 62, julho de 2006
RAYMUNDO DE LIMA

“Dentre todas as manifestações humanas, o silêncio continua sendo a que, de maneira muito pura, melhor exprime a estrutura densa e compacta, sem ruído nem palavras, de nosso inconsciente próprio” (J.-D. Nasio)

“O analista não tem medo do silêncio [...]; ele não escuta somente o que está nas palavras, escuta também o que as palavras não dizem. Escuta com a “terceira orelha”... (T. Reik)

"Na Finlândia, se você está feliz, deve estar em silêncio para ouvir os próprios pensamentos” (?)

É praticamente impossível esperar que crianças e adolescentes naturalmente fiquem em silêncio numa missa, aula, teatro, concerto musical, reunião, cinema. Os adultos, por sua vez, deviam dar o exemplo ficando de boca fechada nas igrejas antes ou durante missa, numa palestra, na biblioteca, etc. Será que existe medo do silêncio, necessário para reflexão?
Para ler e compreender um texto filosófico ou teológico, um poema, é preciso silêncio. Há músicas que só podem ser ouvidas sob um fundo de silêncio. Os retiros espirituais são importantes para capacitar as pessoas a conviverem melhor consigo mesmas; aprender a controlar a inquietação de nossa alma, rumo à ascese. Não “treinar” o silêncio é se entregar à fala vazia ou boba, reforçando um estilo sustentado na ignorância.
“O combate contra a ignorância é a meta de toda educação” diz o professor da UFMG, Roberto Jamil Cury. “Se a barbárie está presente através de atos na própria civilização, desbarbarizar tornou-se uma questão urgente da educação”, alertava o filósofo T. Adorno, na década de 1950.
Contudo, o elogio ao silêncio como sinal de educação deve ser rompido, sempre, para protestar contra os atos que causam direta ou indiretamente indignação, violência e destruição.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Mário Quintana

EVOLUÇÃO
O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro.
Mario Quintana - Caderno H



MÚSICA
O que mais me comove em música
São estas notas soltas
- pobres notas únicas -
Que do teclado arranca o afinador de pianos.

Mario Quintana



OS DEGRAUS
Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...
Mario Quintana - Baú de Espantos


DA OBSERVAÇÃO
Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...
Mario Quintana - Espelho Mágico

ESPELHO
Por acaso, surpreendo-me no espelho:
Quem é esse que me olha e é tão mais velho que eu? (...)
Parece meu velho pai - que já morreu! (...)
Nosso olhar duro interroga:
"O que fizeste de mim?" Eu pai? Tu é que me invadiste.
Lentamente, ruga a ruga... Que importa!
Eu sou ainda aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra,
Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!
Vi sorrir nesses cansados olhos um orgulho triste...
Mario Quintana
SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ªfeira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente ...

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Mario Quintana ( In: Esconderijo do tempo)


OS POEMAS
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Mario Quintana - Esconderijos do Tempo


AH! OS RELÓGIOS

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...

Mario Quintana - A Cor do Invisível


DAS UTOPIAS

Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!

Mario Quintana - Espelho Mágico



POEMINHO DO CONTRA

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

Mario Quintana


EU ESCREVI UM POEMA TRISTE

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!
Mario Quintana - A Cor do Invisível

CANÇÃO DO AMOR IMPREVISTO
Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
nada, numa alegria atônita...
A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos.
Mario Quintana



RECORDO AINDA

Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...

Mario Quintana

DOS MUNDOS
Deus criou este mundo. O homem, todavia,
Entrou a desconfiar, cogitabundo...
Decerto não gostou lá muito do que via...
E foi logo inventando o outro mundo.
Mario Quintana - Espelho Mágico

DA DISCRIÇÃO
Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também...
Mario Quintana - Espelho Mágico


A VERDADEIRA ARTE DE VIAJAR
A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!
Mario Quintana - A verdadeira cor do invisível


O MAPA
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse o meu corpo!)
Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...
Mario Quintana - Apontamentos de História Sobrenatural






domingo, 18 de abril de 2010

Drummond - Poemas

As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabe sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque te amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


José

E agora, José ?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José ?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José ?
E agora, José ?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora ?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José !
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, para onde ?


No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.


Poema das Sete Faces

Quando eu nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração
Porém meus olhos
não perguntam nada
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucas, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
Se eu me chamasse Raimundo
seria apenas rima, não seria solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.


Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rudo trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.


Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegrama?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

"Receita de Ano Novo" e foi lancado em 1977 no livro "Discurso de primavera e algumas sombras", Rio de janeiro, Record. [2a. edicao aumentada, Livraria Jose' Olympio Editora, 1978].


Também já fui brasileiro

Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.
Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.
Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isso, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não.


Hino Nacional

Precisamos descobrir o Brasil!
Escondido atrás das florestas,
com a água dos rios no meio,
O Brasil está dormindo, coitado.
Precisamos colonizar o Brasil.
O que faremos importando francesas
muito louras, de pele macia,
alemãs gordas, russas nostálgicas para
garçonettes dos restaurantes noturnos.
E virão sírias fidelíssimas.
Não convém desprezar as japonesas...,
Precisamos educar o Brasil.
Compraremos professores e livros,
assimilaremos finas culturas,
abriremos dancings e subvencionaremos as elites.
Cada brasileiro terá sua casa
com fogão e aquecedor elétricos, piscina,
salão para conferências científicas.
E cuidaremos do Estado Técnico.
Precisamos louvar o Brasil.
Não é só um país sem igual.
Nossas revoluções são bem maiores
do que quaisquer outras; nossos erros também.
E nossas virtudes? A terra das sublimes paixões...
os Amazonas inenarráveis... os incríveis Jõao-Pessoas...
Precisamos adorar o Brasil!
Se bem que seja difícil caber tanto oceano e tanta solidão
no pobre coração já cheio de compromissos...
se bem que seja difícil compreender o que querem esses homens,
por que motivo eles se ajuntaram e qual a razão de seus sofrimentos.
Precisamos, precisamos esquecer o Brasil!
Tão majestoso, tão sem limites, tão despropositado,
ele quer repousar de nossos terríveis carinhos.
O Brasil não nos quer! Está farto de nós!
Nosso Brasil é no outro mundo. Este não é o Brasil.
Nenhum BRasil existe. E acaso existirão os brasileiros?

1934, Brejo das almas (Poemas). Belo Horizonte, Os Amigos do Livro


Poema Patético

Que barulho é esse na escada?
É o amor que está acabando,
é o homem que fechou a porta
e se enforcou na cortina.
Que barulho é esse na escada?
É Guiomar que tapou os olhos
e se assoou com estrondo.
É a lua imóvel sobre os pratos
e os metais que brilham na copa.
Que barulho é esse na escada?
É a torneira pingando água,
e o lamento imperceptível
de alguém que perdeu no jogo
enquanto a banda de música
vai baixando, baixando de tom.
Que barulho é esse na escada?
É a virgem com um trombone,
a criança com um tambor,
o bispo com uma campainha
e alguém abafando o rumor
que salta de meu coração.
1934, Brejo das almas (Poemas). Belo Horizonte, Os Amigos do Livro



Quero

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao dizer: Eu te amo,
dementes
apagas
teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de ama-me,
que nunca me amaste antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.


Diante de uma criança

Como fazer feliz meu filho?
Não há receitas para tal.
Todo o saber, todo o meu brilho
de vaidoso intelectual
vacila ante a interrogação
gravada em mim, impressa no ar.
Bola, bombons, patinação
talvez bastem para encantar?
Imprevistas, fartas mesadas,
louvores, prêmios, complacências,
milhões de coisas desejadas,
concedidas sem reticências?
Liberdade alheia a limites,
perdão de erros, sem julgamento,
e dizer-lhe que estamos quites,
conforme a lei do esquecimento?
Submeter-se à sua vontade
sem ponderar, sem discutir?
Dar-lhe tudo aquilo que há
de entontecer um grão-vizir?
E se depois de tanto mimo
que o atraia, ele se sente
pobre, sem paz e sem arrimo,
alma vazia, amargamente?
Não é feliz. Mas que fazer
para consolo desta criança?
Como em seu íntimo acender
uma fagulha de confiança?
Eis que acode meu coração
e oferece, como uma flor,
a doçura desta lição:
dar a meu filho meu amor.
Pois o amor resgata a pobreza,
vence o tédio, ilumina o dia
e instaura em nossa natureza
a imperecível alegria.
1996. "Farewell". (Poemas). Rio de Janeiro. Editora Record



Brás Cubas... Machado de Assis

M. Póstumas de Brás Cubas

J.M. Machado de Assis
Prosa Realista - 1881

Vida
Nasceu no dia 21 de junho de 1839 no Rio de Janeiro, mais precisamente no Morro do Livramento. Nasceu simplesmente um moleque de morro, franzino e doentio. Era filho de um pintor de paredes, Francisco José de Assis, e de uma portuguesa, Maria Leopoldina.
Quando ainda pequeno, ficou órfão de mãe. O pai casou-se novamente e a madrasta, Maria Inês, contrariando a lenda, substituiu em cuidados e carinhos a mãe verdadeira e também o pai, que morreria logo depois. Machado cresceu ao lado de Maria Inês, lavadeira e doceira, cujas balas o menino vendia na porta dos colégios que não podia freqüentar.
Naqueles tempos, escola era um privilégio dos mais afortunados. O menino, aliás, nunca freqüentaria qualquer escola. Machado é, hoje, o maior exemplo de autodidatismo no Brasil.
Tímido e introspectivo, Machado teve uma vida sóbria, comportada, sem grandes travessuras de criança, nem grandes aventuras de rapaz.
• 1855 - aos dezesseis anos, publica seu primeiro poema Ela na Marmota Fluminense. Esse poema só foi publicado porque Paula Brito, dono de uma tipografia e de uma livraria, simpatizou-se com o rapaz e fez dele seu protegido.
• 1856 e 1858 - Machado trabalha como topógrafo, primeiro na Imprensa Nacional e depois na tipografia de Paula Brito. Nessa época conhece um jornalista famoso, Manuel Antônio de Almeida, e outros intelectuais.
• 1858 e 1867 - Machado colabora assiduamente em muitos jornais e revistas cariocas, nos publicava contos, crônicas e crítica teatral. No ano de 1857 ingressa no funcionalismo público, em que sucessivamente teve funções cada vez mais importantes e chegou a ser um funcionário de prestígio.
• 1869 - casa-se com Carolina Xavier de Novais, irmã do poeta Faustino Xavier, que viera de Portugal para uma viagem cultural pelo Brasil. O casamento que iria durar 35 anos e ser dos mais felizes foi tumultuado, pois os pais de Carolina, portugueses preconceituosos, não queriam a união da filha com um mulato. Carolina viria a dar ao pacato e caseiro Machado de Assis a companhia ideal em sua fase de produção literária.
• 1870 - Machado nos premia com uma intensa atividade literária e com sucessivas publicações: contos, romances, poesia, teatro e crítica literária.
• 1881 - Machado atinge sua maturidade literária e publica Memórias Póstumas de Brás Cubas, um romance. Essa obra vem a ser um marco na história da Literatura Brasileira.
• 1882 - aparece Papéis Avulsos, uma seleção admirável de contos.
• 1891- aparece Quincas Borba, o mais filosófico dos romances machadianos.
• 1896 - é fundada a Academia Brasileira de Letras, e Machado de Assis, um ano depois, é aclamado seu presidente perpétuo.
• 1899 - surgem Dom Casmurro, romance, obra-prima de drama moral, e Páginas Recolhidas, seleção de contos.
• 1904 - é publicado o romance Esaú e Jacó, e também morre sua esposa Carolina.
• 1908 - morre Machado de Assis, festejado, em todos os sentidos, como o maior escritor brasileiro.

Obra
A classificação (rotulação) de Machado dentro de escolas e movimentos é problemática e atende apenas à comodidade didática. O mesmo ocorre com a divisão de sua obra em fases: a primeira (Romântica) e a segunda (Realista). O que houve em Machado foi um contínuo aperfeiçoamento.


Sua obra abrange os seguintes gêneros literários:
• Poesia - Crisálidas, Falenas e Americanas (fase romântica) e Ocidentais (fase parnasiana)
• Teatro - Desencantos, A Queda que as Mulheres têm para os Tolos, Quase Ministro, Os Deuses de Casa, Tu, Só Tu, Puro Amor, entre outras. É o aspecto menor da obra machadiana. São mais contos dialogados, que peças teatrais.
• Crítica - Abrangendo literatura e teatro.
• Crônica - Reunida no livro A Semana.
• Conto - Tão importante quanto o romance machadiano. Contos Fluminenses, Histórias da Meia-Noite, Papéis Avulsos, Histórias sem Data, Várias Histórias e Relíquias da Casa Velha.
• Romance - Fase romântica: Ressureição, A Mão e a Luva, Helena e Iaiá Garcia. Apesar de rotulados "românticos" , há nesses romances elementos realistas: a análise psicológica e o fato de que as heroínas ajam por interesse na obtenção de "status" social e não por amor, mola central da narrativa romântica. Fase realista: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e D. Casmurro, que constituem a Trilogia Machadiana, Esaú e Jacó e Memorial de Aires.
Considerações Gerais
A ruptura com a narrativa linear:
Os fatos e as ações não seguem um fio lógico ou cronológico, obedecem a um ordenamento interior, são relatados à medida que afloram à consciência ou à memória do narrador, num processo que se aproxima do impressionismo.

A organização metalingüística do discurso narrativo:
É comum, na ficção machadiana, que o narrador interrompa a narrativa para, com saborosa e bem-humorada bisbilhotice, comentar com o leitor a própria escritura do romance, fazendo-o participar de sua construção; ou ainda, para dialogar sobre uma personagem, refletir sobre um episódio do enredo ou tecer suas digressões sobre os mais variados assuntos.
Machado assume a posição de quem escreve e ao mesmo tempo se vê escrevendo. Esses comentários à margem da narração constituem o principal interesse, pois neles está a mensagem artística do escritor.

O universalismo
Machado captou na sociedade carioca do século XIX, os grandes temas de sua obra. O seu interesse jamais recaiu sobre o típico, o pitoresco, a cor local, o exótico, tão ao gosto dos românticos. Buscou, na sociedade do seu tempo, o universal, a essência humana, os grandes valores filosóficos: a essência e a aparência; o caráter relativo da moral humana; as convenções sociais e os impulsos interiores; a normalidade e a loucura, o acaso, o ciúme, a irracionalidade, a usura, a crueldade.
A pobreza de descrições, a quase ausência da paisagem são ainda desdobramentos dessa concentração na análise psicológica e na reflexão filosófica. As tramas dos romances machadianos poderiam, sem grandes prejuízos à narrativa, ser transplantadas para qualquer época e qualquer cidade.

Os grandes arquétipos
Uma das linhas mestras da ficção machadiana parte do aproveitamento dos arquétipos, que remontam à tradição clássica e aos textos bíblicos. (Arquétipo = modelo de seres criados; padrão exemplar; imagens psíquicas do inconsciente coletivo, e que são o patrimônio coletivo de toda a humanidade.)
Assim, o conflito dos irmãos Pedro e Paulo, em Esaú e Jacó, remonta ao arquétipo bíblico da rivalidade entre Caim e Abel; a psicose do ciúme de Bentinho, em D. Casmurro, aproxima-se do drama de Otelo e Desdêmona, de Shakespeare.

O pessimismo
Machado revela sempre uma visão desencantada da vida e do homem. Não acreditava nos valores do seu tempo e, a rigor, não acreditava em nenhum valor. Mais do que pessimista ou negativa, sua postura é niilista ("nil" - nada). O desmascaramento do cinismo e da hipocrisia, do egoísmo e do interesse, que se camuflavam sob as convenções sociais é o cerne de grande parte da ficção machadiana.
O capítulo final de Memórias Póstumas, o antológico das negativas, é exemplo cabal do pessimismo do autor:

Capítulo CLX
Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplastro, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

A ironia, o humor negro
A forma de revolta de Machado era o rir; quase sempre um riso amargo que exteriorizava o desencanto e o desalento ante a miséria física e moral de suas personagens. Observem o texto:

Daqui inferi eu que a vida é o mais engenhoso dos fenômenos, porque só aguça a fome , com o fim de deparar a ocasião de comer, e não inventou os calos, senão porque eles aperfeiçoam a felicidade terrestre. Em verdade vos digo que toda a sabedoria humana não vale um par de botas curtas.
Tu minha Eugênia, é que não as descalçaste nunca; foste aí pela estrada da vida, manquejando da perna e do amor, triste como os enterros pobres, solitária, calada, laboriosa, até que vieste também para esta outra margem... O que eu sei é se a tua existência era muito necessária ao século. Quem sabe? Talvez um comparsa de menos fizeste patear a tragédia humana.


Resumo
Brás Cubas, já falecido, conta, do outro mundo, as suas memórias: Expirei em 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Galhofando dos ascendentes, fala da própria genealogia. Assevera que morreu de pneumonia apanhada quando trabalhava num invento farmacêutico, um emplastro medicamentoso. Virgília, sua ex-amante, que já não via há alguns anos, visitou-o nos últimos dias de vida. Narra Brás Cubas um delírio que teve durante a agonia: montado num hipopótamo foi arrebatado por uma extensa e gelada planície, até o alto de uma montanha, de onde divisa a sucessão dos séculos.
Além dos pais, tiveram grande influência na educação do pequeno Brás Cubas três pessoas: tio João, homem de língua solta e vida galante; tio ldefonso, cônego, piedoso, e severo; Dona Emerenciana, tia materna, que viveu pouco tempo. Brás passou uma infância de menino traquinas, mimado demasiadamente pelo pai. Aos dezessete anos apaixona-se por Marcela, dama espanhola, com quem teve as primeiras experiências amorosas. Para agradar Marcela, Brás começa a gastar demais, assumindo compromissos graves e endivida-se. Marcela gostava de jóias, e Brás procurava fazer-lhe todos os gostos. Marcela amou-me, diz Brás Cubas, durante quinze meses e onze contos de réis. Quando o pai tomou conhecimento dos esbanjamentos do filho, mandou-o para a Europa: vais cursar uma Universidade, justificou. Em Coimbra, Brás segue o curso jurídico e bachare-la-se. Depois, atendendo a um chamado do pai, volta ao Rio: a mãe estava moribunda. E, de fato chega ao Brasil, e a mãe falece. Passando uns dias na Tijuca, conhece Eugênia, moça bonita, mas com um defeito na perna que a fazia coxear um pouco. Com ela mantém um romance passageiro.
O pai de Brás tem duas ambições para o filho: quer casá-lo e fazê-lo deputado. Tudo faz para encaminhá-lo no rumo do casamento e procura aumentar o círculo de amigos influentes na política, a fim de preparar o caminho para o futuro deputado. Assim é que Brás Cubas é apresentado ao Conselheiro Dutra, que promete ajudar ao jovem bacharel na pretendida ascensão política.
Brás nesta altura vem a conhecer Virgília, filha do Conselheiro Dutra, pela qual se apaixona. Parecia, com isso, que os sonhos do pai sobre Brás estavam prestes a realizar-se: bem-encaminhado na política e quase noivo. Entretanto acontece um imprevisto: surge Lobo Neves, que não somente lhe rouba a namorada, mas também cai nas boas graças do Conselheiro Dutra. Vendo assim preterido o filho, o pai de Brás sente-se profundamente desapontado e magoado. Veio a falecer dali a alguns meses, de um desastre.
Virgília casa-se com Lobo Neves e, pouco tempo depois, vê eleito deputado o marido. Mas, na verdade, Virgília casara-se com Lobo por interesse, e ama realmente Brás Cubas. Virgília e Brás principiam a encontrar-se com freqüência e, em breve, tornam-se amantes . Lobo Neves adora a esposa e nela confia inteiramente. Aliás não tinha muito tempo para observar o que se passa, já que estava entregue totalmente à política.
Narra nesta altura Brás Cubas o encontro que teve com seu ex-colega de escola primária, Quincas Borba, que se tornara um infeliz mendigo de rua. Depois do encontro com Quincas, Brás percebe que o maltrapilho lhe roubara o relógio.
Os encontros amorosos entre Virgília e Brás suscitam comentários e mexericos dos vizinhos, amigos e conhecidos. Por esse motivo, Brás propõe a Virgília a fuga para um lugar distante. Virgília, porém, pensa no marido que a ama e na família, e sugere uma casinha só nossa, metida num jardim, em alguma rua escondida. A idéia parece boa a Brás, que sai remoendo a proposta: uma casinha solitária, em alguma rua escura. Virgília e sua ex-empregada, chamada Dona Plácida, se encarregam de adornar a casa e, aparentemente, quem ali reside é Dona Plácida. Ali os dois amantes se encontram sem maiores embaraços, e sem despertarem suspeitas.
Sucede que, por motivos políticos, Lobo Neves é designado como presidente de uma província e, dessa, forma, tem de afastar-se com a mulher. Brás fica desesperado e pede a Virgília que não o abandone. Quando tudo parece sem solução, eis que surge Lobo Neves e, para agradar ao amigo da família, convida Brás Cubas a acompanhá-lo, como secretário. Brás aceita. Os mexericos se tornam mais intensos e Cotrim, casado com Sabina, irmã de Brás Cubas, procura fazer ver ao cunhado que a viagem seria uma aventura muito perigosa. Mais por superstição do que pelos conselhos de Cotrim, Lobo Neves acaba não aceitando mais o cargo de presidente, porque o decreto de nomeação saíra publicado no Diário Oficial num dia 13, e Lobo Neves tinha pavor do número treze considerado um número fatídico.
Lobo Neves recebe uma carta anônima denunciando os amores da esposa com o amigo. Isso faz com que os dois amantes se mostrem mais reservados, embora continuem encontrando-se na Gamboa (onde ficava a casa de Dona Plácida). Surge então um acontecimento que vem alterar a situação dos personagens: Lobo Neves é novamente nomeado presidente, e desta vez parte então para o interior do país, levando consigo a esposa. Brás procura distrair-se e esquecer a separação. Aliás, o tempo se havia escoado e, embora ainda se sentisse forte e com saúde, era já um cinquentão.
A irmã Sabina, que vinha procurando "arranjar" um casamento para Brás, volta a insistir em seu objetivo. A candidata, uma moça prendada, chamava-se Nhá-Loló. Mesmo sem entusiasmo, Brás aparenta interesse pela pretendente, mas Nhá-Loló vem a falecer durante uma epidemia.
O tempo vai passando. Mais por distração do que por idealismo. Faz-se deputado e, na assembléia, vem a encontrar-se com Lobo Neves que havia voltado da província . Encontra-se também com Virgília, que não tinha a beleza antiga que o havia atraído anteriormente. Assim, por desinteresse recíproco, chegam ao fim os amores de Brás e Virgília.
Quincas Borba, o mendigo, reaparece e lhe restitui o relógio, passando a ser um freqüentador da casa de Brás. Quincas Borba estava mudado: não era mais mendigo, recebera uma herança de um tio em Barbacena. Virara filósofo: havia inventado uma nova teoria filosófica-religiosa, o Humanismo, e não falava noutra coisa. O próprio Brás Cubas passa a interessar-se muito pelas teorias de Quincas Borba.
Morre, por esse tempo, Lobo Neves, e Virgília chorou com sinceridade o marido, como o havia traído com sinceridade. Também vem a falecer Quincas Borba, que havia enlouquecido completamente.
Brás Cubas deixou este mundo pouco depois de Quincas Borba, por causa de uma moléstia que apanhara quando tratava de um invento seu, denominado emplastro Quincas Borba. E o livro conclui: Ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas (refere-se ao último capítulo do livro): não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria".

Personagens
• Brás Cubas - narrador - morto aos 64 anos - “ainda próspero e rijo”, fidalgo
• Marcela - Segundo grande amor de Brás Cubas, uma prostituta de elite, cujo amor por Brás duraria quinze meses e onze contos de réis.
• Virgilia - filha do comendador Dutra, segundo o pai de Brás, Bento Cubas A “Ursa Maior” amante de Brás Cubas casa-se com Lobo Neves por interesse.
• Quincas Borba - menino terrível que dava tombos no paciente professor Barata, colega de escola de Brás que o encontrará mais tarde mendigo que rouba-lhe um relógio mas retorna-o ao colega após receber uma herança. Desenvolve a filosofia do humanismo: “Ao vencedor as batatas ao vencido ódio ou compaixão”.
• Eugênia - Filha de Eusébia e Vilaça, menina bela embora coxa.
• Nhá Loló - moça simplória, tinha dotes de soprano - morre de febre amarela..
• Cotrim - casado com Sabina, irmã de Brás; ambos interesseiros
• Nhonhô - filho de Virgília
• D. Plácida empregada de Virgília confidente e protetora de sua realção - extra conjungal
• Lobo Neves - casado com Virgília, homem frio e calculista.