quarta-feira, 21 de abril de 2010

Silêncio para ensinar.

Os professores do ensino fundamental e médio, atualmente, reclamam que na sala de aula passam mais tempo pedindo silêncio aos alunos do que ensinando. Apesar dos sinais de barbárie na escola contemporânea, pouco se tem feito para impedir o seu avanço. Que fazer se os especialistas em educação se limitam a rotina de produção teórica abstracionista, e os responsáveis pelo sistema educacional continuam fugindo do compromisso de fazer “dialética do concreto” com o cotidiano das relações humanas na escola e na universidade? Onde está o equilíbrio entre conhecimento e sabedoria na formação dos professores para o futuro? Quem educará os pais para melhor educar os filhos?
Um dos efeitos da “geração net” é não respeitar os espaços cujo silêncio é quase obrigatório. Além de não suportar o silêncio necessário para introspecção, a “geração net” não tem paciência de seguir o fio condutor de uma conversa. Quanto mais jovem, mais rapidamente passa de um tema para outro ou troca de interlocutor como quem aperta o botão do controle remoto da TV. Mais do que impaciência, tais atitudes podem também revelar intolerância e desrespeito para com o próximo e falta de sintonia com o ambiente.
Como imaginam que “mandam no pedaço”, crianças e adolescentes se acham no direito de interromper a conversa dos adultos por motivo fútil. Os adultos, por sua vez, fingem que aceitam a atitude grosseira, ou se acovardam, deixando de exercer a autoridade de educadores, cujo resultado previsível é a incivilidade.
Muitas pessoas estão deixando de freqüentar os cinemas para evitar constrangimentos com platéias mal educadas, barulhentas, parecendo estar mais interessadas em comer pipoca e dar arrotos de refrigerantes do que assistir ao filme em silêncio. (Existe diferença entre a demonstração de incivilidade do MLST no Congresso Nacional, as depredações das escolas públicas, ou outras menos barulhentas promovidas pelas gangs no dia-a-dia urbano?).
Mede-se o nível de ensino de uma universidade pelo grau de silêncio de sua biblioteca. Alunos de alguns cursos de nível superior são mais propensos ao zunzunzun da “conversa paralela” que, sem querer-querendo, termina atrapalhando o silêncio imprescindível para ouvir uma exposição oral. Se o assunto é complexo e/ou o professor tem o estilo monótono, aumenta a probabilidade de dispersão e cochichos inconvenientes. O historiador Peter Burke observa que essa inclinação para romper a romper com o silêncio necessário de uma aula, nos países latinos, talvez viria de costume cultural de “tentar ouvir muitas pessoas falando ao mesmo tempo”. Ao contrário do costume anglo-saxônico que exige total silêncio da audiência, o palestrante para público latino-americano deve estar preparado para discorrer seu assunto tendo como ruído de fundo o zumbido de vozes. Curiosamente, ele seria considerado mal educado ou impolido se pedir silêncio, deixando transparecer certa irritação para com os verdadeiros mal educados.

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